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domingo, 24 de abril de 2011

A preguiça é produtiva

Estamos acostumados a pensar que o grupo mais eficiente é aquele em que todos colaboram. Na verdade, quem enrola faz os outros se desdobrarem
por Laurence D. Hurst

Nik Neves

Poucas teorias são tão versáteis quanto a chamada conspiração de pombos. Ela se aplica à biologia, à sociologia, à política, à economia, à administração de empresas... É uma tese simples e aceita universalmente: para um grupo ser eficiente em qualquer atividade, é fundamental que todos os seus integrantes colaborem dando o melhor de si. Quem discordaria? Parece óbvio que qualquer coletividade, de uma colmeia a uma grande corporação, depende da dedicação individual com um objetivo comum. Eu também pensava assim. Até que participei de um estudo, publicado recentemente, que aponta para uma direção bem diferente: os preguiçosos são importantíssimos para o aumento da produtividade.

A pesquisa reuniu biólogos, matemáticos, geneticistas e zoólogos de cinco universidades inglesas e alemãs, incluindo Oxford. Alteramos geneticamente um grupo de leveduras para que parte delas fosse incapaz de transformar as moléculas de sacarose e glicose. Reunimos estes fungos preguiçosos, que apenas digeriam alimentos sem produzir nada, a outros, normais. Para nossa surpresa, percebemos que a falta de alimentos levou as leveduras produtivas a se esforçarem muito mais. A colônia atingiu o nível máximo de crescimento quando teve 60% de fungos inaptos. Sozinhos, os 40%, sob a pressão da sobrevivência, foram mais produtivos do que se os 100% de leveduras atuassem juntos.

Nosso próximo passo é reproduzir o experimento com outros tipos de colônias. Mas, enquanto isso, eu já tirei minhas conclusões a respeito deste fenômeno. Se você está no ambiente de trabalho agora, olhe à sua volta e acompanhe meu raciocínio. Não existem ambientes de total cooperação. Algumas pessoas sempre são muito mais produtivas que outras — mesmo as mais dedicadas atravessam momentos pessoais difíceis, que reduzem drasticamente sua dedicação. Mesmo assim, aposto que, em geral, as metas do grupo são cumpridas. Na prática, faz bem para qualquer corporação contar com uma parcela de profissionais improdutivos, porque os demais sempre vão se desdobrar para cumprir as tarefas que sobrarem. Os eficientes vão ficar insatisfeitos, com certeza. Mas, ao perceber que o desempenho profissional daquele grupo depende deles, o instinto de sobrevivência fala mais alto.

Nik Neves

Minha tese não é apenas um chute ou uma comparação absurda entre fungos e humanos. A antropologia e a zoologia nos ensinam: em grupos de leões, por exemplo, os mais fortes são os que assumem as posições de liderança. Como resultado, são os que mais trabalham. Outro exemplo: o que nós humanos fazemos em prol dos nossos bebês? Não existe ser mais improdutivo do que um recém-nascido. E nós nos desdobramos para que eles se mantenham vivos e saudáveis. Trabalhamos por dois, ou por três, se for o caso, mas não abandonamos os filhotes (ou os mais idosos e doentes) à inanição. Por que no ambiente de trabalho seria diferente?

Os gestores e chefes precisam repensar a “conspiração de pombos”. Não estou sugerindo que comecem a procurar pessoas preguiçosas para garantir o equilíbrio da companhia, mas precisamos encarar com mais naturalidade um fato que as empresas insistem em combater: os funcionários mais lentos existem e não vão desaparecer. O importante é fazer com que eles não derrubem os ânimos dos mais dedicados. Assim o grupo vai alcançar a maior produtividade possível, sem o sonho da eficiência total.n

Laurence D. Hurst é professor de genética evolutiva da Universidade de Bath, na Inglaterra, e pesquisador especializado em cooperação entre animais e humanos

Fonte: Revista Galileu

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